segunda-feira, 21 de agosto de 2017

  1. Uma merda dum papel para eu pregar na parede, em vez de nos dar as medalhas a cada um dos soldados, que lutamos com unhas e dentes, condecoraram o Batalhão com cinco companhias, perto de mil homens, Porquê!?...  Ficava muito caro. Pedissem ajuda aos grandes monopólios do petróleo e dos diamantes...  medalhas cruz de guerra e palma. Medalhas mas para quê outra merda, que não me valoriza mesmo nada! para mim nada disso tem nenhum valor. Porque fomos traumatizados, despejados pelos cantos de Portugal. Estávamos na pior zona de Guerra. os nossos carros eram todos blindado

















domingo, 20 de agosto de 2017

Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, Lisboa,

A 3 de Julho de 1960 fui alistado e fui incorporado a 22 de Agosto de 1961, no Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, Lisboa, no último Batalhão de Caçadores Especiais 357 com cinco companhias, tropas de intervenção. Seguiu-se mais ou menos oito meses de preparação militar que foi  puxada, e a 28 de Abril de 1962, fazia parte da Companhia de Caçadores Especiais 307 do B.C.E. 357, embarquei em Lisboa, com destino à Ex-colónia ultramarina de Angola e desembarquei em Luanda, a 12 de Maio no mesmo ano. ( 19 de maio fiz 20 anos ). Luanda, cidade de encanto, linda! A terra parecia que se ria, um céu azul claro, mas um calor insuportável. O meu coração batia aceleradamente, pois não sabia o que me esperava. Entrei num mundo desconhecido, onde encontrei encanto e lindeza, como as rosas… mas que também têm espinhos! Dia 29, estou no Campo do Grafanil. Só barracas, não de madeira, de lona, tendas de campanha. Uma linda noite, o céu bem iluminado de estrelas e a lua bastante brilhante, mas… com o calor terrível, os mosquitos malditos não me largam. O Campo de Grafanil ficava numa área vedada com arame farpado. Uma semana depois calhou-me ficar de sentinela. Este sítio à noite era como se fosse desconhecido, um silêncio como eu nunca tinha visto, que me enervava e fazia o meu o meu coração bater como um ‘cavalo em corrida’. Só queria que corresse tudo bem e que não fosse obrigado a matar. Às duas da manhã comecei ouvir ruídos. Baixei-me um pouco mais que a superfície do capim, os meus olhos brilhavam e o meu corarão estava triste. Os ruídos cada vez se aproximavam mais e eu virei-me para uma casa onde estavam a dormir os soldados angolanos e, de repente, por trás de mim, um ruído mais próximo. Com uma rapidez louca virei-me para trás, fiz fogo instintivo, de rajada, com uma espingarda automática FM… quando deixei de dar fogo ouvi novamente ruídos, mas agora de quem ia a fugir… abri fogo novamente, mas o meu objetivo não era matar alguém, era só para assustar. Apareceu um furriel, com um pelotão, num Unimog e perguntou: - O que foi? Contei-lhe o que se tinha passado. Foram fazer uma batida e passado meia hora soube que era uma pequena manada de porcos mansos, que pertencia ao Campo do Grafanil. Como eu estava num ponto mais alto que o recinto onde estavam montadas as barracas de campanha, onde dentro de uma delas onde dormiam os oficiais, as rajadas passaram por cima e cortaram o mastro de madeira que segurava, ao meio, a tenda do tenente-coronel, comandante do batalhão. Quando os meus colegas me contaram, foi de rir até não poder mais, pois ele fugiu cá para fora muito aflito, e em cuecas! Passado um mês formou-se o comboio de viaturas militares da minha companhia, e saímos do Grafanil pela manhã, com destino ao norte. A viagem foi tão longa que perdi a contagem dos dias. Era o cansaço, o não dormir bem, os mosquitos que nos envenenavam, e o medo do perigo neste país bonito, mas desconhecido para todos e cheio de surpresas. As estradas? Horríveis e esses malditos carros alemães, de marca Unimog que saltam e baloiçam que até faz revoltar os intestinos. Passei por selva linda, uma natureza que dava gosto de apreciar, mas, na verdade, se o homem for louco torna-se num inferno. Chegámos a Maquela do Zombo e fizemos uma grande pausa… bem merecíamos. Fui comer a uma tasca, já estava farto de conservas e de sopa cozinha, em andamento. Falaram que o percurso era de 1500 km. Ao outro dia de manhã arrancámos com destino a uma sanzala destruída, sem viva alma, só o nome é que existia na cabeça dos homens. Entrámos numa zona perigosa e todos iam a prever o perigo, até que chegámos a um acampamento duma companhia do nosso batalhão, que já tinha arrancado primeiro de Luanda. O capitão da companhia da 304, mais desumano que eu conheci. Não houve soldado nenhum que não fosse maltratado e castigado com prisões e detenções. Houve um soldado que por cantar “ó trabalho vai-te embora”, foi castigado com 5 dias de prisão. Ouvi histórias de que alguns soldados, na confusão do combate, o tentaram abater, mas o desgraçado safou-se sempre. Depois partimos, até chegar a Coma, onde se instalou o nosso aquartelamento. Quando chegámos, encontrámos capim, arvoredo, cabanas destruídas, calor tropical e mosquitos, Começámos a construir casernas com blocos de terra, que eram feitos numa forma e depois eram secos ao sol, cozinhas, a secretaria, o posto de socorros, a padaria, armazéns, entre outros. Ah… e o arame farpado, a toda a volta do acampamento militar. Faltava a iluminação, interior e exterior do acampamento, claro. Talvez por saber alguma coisa que constava na minha ficha, o comandante perguntou se eu percebia de eletricidade. Acusei-me e disse: - Não
percebo… sou mesmo eletricista. Resultado, responsabilizou-me pela iluminação. Passados dois meses, começámos a construir uns torreões em cada canto do acampamento. Como eu era todo cheio de engenhocas, punha-me sempre a pensar sobre a eletricidade, com mira de me escapar às operações militares! Com uma óptica do farol de um carro, comecei por construir um projetor que colocava a luz a grande distância. Mostrei ao capitão, ele aprovou, e comecei a construir projetores por cima e entre os dois torreões.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O dia em que a morte falou comigo


Um dia eu regressei, exausto, sujo e cansado, ao aquartelamento, situado em Coimba, no norte de Angola, vindo de uma operação militar. Tomei um duche, deitei-me por cima da cama… e adormeci. Quando acordei e percebi que tinha regressado ao mundo real, vindo de um mundo desconhecido, agarrei-me depressa a escrever que a morte tinha falado comigo.
A morte falou comigo.
Fui ao encontro dele numa mata, algures em Angola.
A morte sorriu e falou comigo.
A morte: A tua vida é sangrenta e confusa o suficiente para poder levar-te comigo para sempre.
Eu: Ainda tenho um grande e longo caminho à minha frente. Se estou aqui nesta guerra sangrenta e confusa como tu dizes, é totalmente contra a minha vontade. Sabes, não me leves contigo, porque não quero ser herói nesta guerra. Os heróis ficam esquecidos no passado.
A morte: És tu contra esta guerra?
Eu: Sim, eu já te disse. Sou contra todas as guerras. Os homens são piores do que os adolescentes, que querem logo crescer e desejam ser sempre heróis.
A morte: O que mais te surpreende neste mundo?
Eu: Quero que os homens se aborreçam de fazer guerra, que crescem e que deixem de ser gananciosos. Quero que sejam como as crianças. O homem desperdiça a sua saúde, extermina a sua espécie, tudo por causa do dinheiro. Porque se aborrecem de ser como as crianças.
A Morte: Que pensas tu sobre o futuro?
Eu: O futuro da humanidade vai ser terrível. Muito caos, entrará muita gente no teu reino e tu ficarás contente. Alguns homens vivem como se nunca fossem morrer. Ansiosos sobre o futuro, eles esquecem-se do presente e, dessa forma, não vivem nem o presente, nem o futuro.
A morte: Gostas da vida aqui na terra?
Eu: A vida humana é primitiva.
A morte: Por que razão dizes que a vida é primitiva?
Eu: Sabes, morte, eu não devia ter nascido. Sabes porquê? Um ser humano nasce, aprende todos os ensinamentos durante anos, e depois leva tudo consigo para a sepultura. E morre, como se nunca tivesse vivido. Mas o Deus, que vive dentro de mim, segurou a minha mão por instantes para que eu ficasse firme aqui na terra.
A morte: Que lições de vida queres que teus filhos aprendam?
Eu: Que aprendam amar, a fazer com que os outros os amem. Que se deixem amar. Que aprendam que o mais valioso não são as coisas que se tem na vida, mas sim a vida.
A morte: Gostas de lutar?
Eu: Sim, lutar incondicionalmente pelo amor, não só para mim e para a minha família, mas também para a humanidade, sem agressões e pressões. Mas primeiro tenho que me mudar a mim mesmo.
A morte: Achas que consegues mudar o mundo?
Eu: Não, sozinho não consigo mudar absolutamente nada. Mas… sim, com os homens de boa vontade sim.
A morte: O que dizes sobre a justiça divina?
Eu: Sim, acredito da justiça divina! Mas também na do homem. Mas ambas, por vezes, são injustas e desumanas.
A morte: Por que razão dizes que ambas são desumanas?
Eu: Os marginais e gananciosos que prejudicam a humanidade, e os corruptos, devem ser julgados. Por vezes as leis são desumanas, porque há muitos inocentes entre os culpados. Os juízes, muito deles são, também, pecadores, só que estão camuflados com os instrumentos da justiça, assim como os políticos, que também estão camuflados pelo poder. A justiça é feita individualmente sobre seus próprios méritos, não como um grupo, na base de comparação! Cada caso é um caso. Quanto à justiça divina, também ela é injusta. O planeta está um caos e quem paga sempre são os pobres, que ficam cada vez mais pobres. Não é justo! Tenho observado como o ser humano mudou nos últimos anos. Infelizmente piorou muito as suas qualidades. As pessoas agem como se fossem elas as únicas no mundo, e como se os outros não existissem.
A morte: Que pensas sobre os ricos?
Eu: Que eles têm de aprender que este mundo não é só deles, mas de todos. Têm de aprender que uma pessoa rica não é a dona do mundo. Que o dinheiro não lhes dá felicidade. Que as que não têm absolutamente nada, são as que, na verdade, são mais felizes. Porque acreditam naquilo que não se vê… a “Fé”.
A morte: O que pensas sobre os teus inimigos?
Eu: Eu não tenho inimigos! O homem é aquilo que pensa e as inimizades atraem a maldade. Eu aprendi a perdoar, mesmo que a outra parte que existe em mim me diga para reagir contra. Aprendi a perdoar, praticando o perdão.
A morte: O que pensas sobre os sentimentos?
Eu: Para muitas pessoas é complicado. Não é com ódio e ciúme, nem com qualquer tipo de maldade que se consegue conquistar qualquer amor! Mas sim a aprender a amar. Há pessoas que amam muito, simplesmente não sabem como expressar, ou demonstrar os seus sentimentos. Misturam o amor com a maldade, e isso é doentio. Aprendi que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e vê-la totalmente diferente. As pessoas devem saber, e aprender, que um amigo verdadeiro é alguém que sabe alguma coisa, ou muita coisa, sobre nós, e que gosta de nós assim como somos. O amor está presente, aqui e ali, 24 horas por dia. Pode-se esquecer o que a outra pessoa nos disse, e devemos esquecer o que ela fez, mas jamais nós vamos esquecer como ela nos fez, e sentir no nosso coração as palavras ofensivas. O remédio não passa só por dizer amor. É ter cuidado com a boca e perdoar-me a mim mesmo, para que eu possa perdoar os outros. Por vezes, para acudir uma amizade temos que fazer sofrer a pessoa que nós amamos. Sabes morte, eu não compreendo os sentimentos dos homens. E até tu, morte, cometes injustiças. Lembra-te do homem e das adversidades, amarguras, tormentos, aflições, por que passa. Observa as tragédias que têm acontecido a cada minuto, neste nosso mundo, e que centenas de pessoas inocentes, morrem sem que tenhas dó nem piedade de ninguém.
A morte: O que pensas sobre o isolamento e a depressão?
Eu: Não é isolado entre quatro paredes, sentado no cantinho duma casa, à espera que Deus, aquele velhinho de barbas brancas, sentado dum trono de ouro, onde ninguém o pode tocar, nos venha socorrer, que resolvemos os nossos problemas. Esse Deus está dentro de nós. Á que por o pé á estrada. Sabes morte, existem dois verbos que me salvaram e me salvarão: SERVIR, e AMAR todas as pessoas incondicionalmente, incluindo o inimigo. Jamais devemos desanimar, porque é aqui que está o valor da alma. Morte, sabes uma coisa, estou farto das tuas perguntas. Peço-te um favor… vai para bem longe de mim para não me cheirares mal. Até ao dia que o meu relógio biológico deixar de funcionar. Tchau