percebo… sou mesmo eletricista.
Resultado, responsabilizou-me pela iluminação.
Passados dois meses, começámos a construir uns torreões em cada canto do acampamento.
Como eu era todo cheio de engenhocas, punha-me sempre a pensar sobre a eletricidade, com mira de me escapar às operações militares!
Com uma óptica do farol de um carro, comecei por construir um projetor que colocava a luz a grande distância. Mostrei ao capitão, ele aprovou, e comecei a construir projetores por cima e entre os dois torreões.
domingo, 20 de agosto de 2017
Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, Lisboa,
A 3 de Julho de 1960 fui alistado e fui incorporado a 22 de Agosto de 1961, no Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, Lisboa, no último Batalhão de Caçadores Especiais 357 com cinco companhias, tropas de intervenção.
Seguiu-se mais ou menos oito meses de preparação militar que foi puxada, e a 28 de Abril de 1962, fazia parte da Companhia de Caçadores Especiais 307 do B.C.E. 357, embarquei em Lisboa, com destino à Ex-colónia ultramarina de Angola e desembarquei em Luanda, a 12 de Maio no mesmo ano. ( 19 de maio fiz 20 anos ). Luanda, cidade de encanto, linda! A terra parecia que se ria, um céu azul claro, mas um calor insuportável. O meu coração batia aceleradamente, pois não sabia o que me esperava. Entrei num mundo desconhecido, onde encontrei encanto e lindeza, como as rosas… mas que também têm espinhos!
Dia 29, estou no Campo do Grafanil. Só barracas, não de madeira, de lona, tendas de campanha. Uma linda noite, o céu bem iluminado de estrelas e a lua bastante brilhante, mas… com o calor terrível, os mosquitos malditos não me largam.
O Campo de Grafanil ficava numa área vedada com arame farpado. Uma semana depois calhou-me ficar de sentinela. Este sítio à noite era como se fosse desconhecido, um silêncio como eu nunca tinha visto, que me enervava e fazia o meu o meu coração bater como um ‘cavalo em corrida’. Só queria que corresse tudo bem e que não fosse obrigado a matar.
Às duas da manhã comecei ouvir ruídos. Baixei-me um pouco mais que a superfície do capim, os meus olhos brilhavam e o meu corarão estava triste. Os ruídos cada vez se aproximavam mais e eu virei-me para uma casa onde estavam a dormir os soldados angolanos e, de repente, por trás de mim, um ruído mais próximo. Com uma rapidez louca virei-me para trás, fiz fogo instintivo, de rajada, com uma espingarda automática FM… quando deixei de dar fogo ouvi novamente ruídos, mas agora de quem ia a fugir… abri fogo novamente, mas o meu objetivo não era matar alguém, era só para assustar.
Apareceu um furriel, com um pelotão, num Unimog e perguntou:
- O que foi?
Contei-lhe o que se tinha passado. Foram fazer uma batida e passado meia hora soube que era uma pequena manada de porcos mansos, que pertencia ao Campo do Grafanil.
Como eu estava num ponto mais alto que o recinto onde estavam montadas as barracas de campanha, onde dentro de uma delas onde dormiam os oficiais, as rajadas passaram por cima e cortaram o mastro de madeira que segurava, ao meio, a tenda do tenente-coronel, comandante do batalhão. Quando os meus colegas me contaram, foi de rir até não poder mais, pois ele fugiu cá para fora muito aflito, e em cuecas!
Passado um mês formou-se o comboio de viaturas militares da minha companhia, e saímos do Grafanil pela manhã, com destino ao norte.
A viagem foi tão longa que perdi a contagem dos dias. Era o cansaço, o não dormir bem, os mosquitos que nos envenenavam, e o medo do perigo neste país bonito, mas desconhecido para todos e cheio de surpresas. As estradas? Horríveis e esses malditos carros alemães, de marca Unimog que saltam e baloiçam que até faz revoltar os intestinos.
Passei por selva linda, uma natureza que dava gosto de apreciar, mas, na verdade, se o homem for louco torna-se num inferno.
Chegámos a Maquela do Zombo e fizemos uma grande pausa… bem merecíamos. Fui comer a uma tasca, já estava farto de conservas e de sopa cozinha, em andamento. Falaram que o percurso era de 1500 km. Ao outro dia de manhã arrancámos com destino a uma sanzala destruída, sem viva alma, só o nome é que existia na cabeça dos homens.
Entrámos numa zona perigosa e todos iam a prever o perigo, até que chegámos a um acampamento duma companhia do nosso batalhão, que já tinha arrancado primeiro de Luanda.
O capitão da companhia da 304, mais desumano que eu conheci. Não houve soldado nenhum que não fosse maltratado e castigado com prisões e detenções. Houve um soldado que por cantar “ó trabalho vai-te embora”, foi castigado com 5 dias de prisão. Ouvi histórias de que alguns soldados, na confusão do combate, o tentaram abater, mas o desgraçado safou-se sempre.
Depois partimos, até chegar a Coma, onde se instalou o nosso aquartelamento. Quando chegámos, encontrámos capim, arvoredo, cabanas destruídas, calor tropical e mosquitos, Começámos a construir casernas com blocos de terra, que eram feitos numa forma e depois eram secos ao sol, cozinhas, a secretaria, o posto de socorros, a padaria, armazéns, entre outros. Ah… e o arame farpado, a toda a volta do acampamento militar.
Faltava a iluminação, interior e exterior do acampamento, claro.
Talvez por saber alguma coisa que constava na minha ficha, o comandante perguntou se eu percebia de eletricidade. Acusei-me e disse:
- Não
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